Movimento Brasileiro de Alfabetização: Eu fiz parte, eu plantei!
Eu tinha 17 anos, tinha muitas amigas, mas algumas eram prediletas, mas tinha uma que só andávamos juntas e tudo que fazia parte de grupos, cursos, passeios, festas a única coisa que nos separava era na hora de cada uma ir encontrar seus namorados.
Ela era de um sítio e morava na cidade junto com as irmãs para estudarem e somente ela trabalhava e estudava, nunca vi baixinha tão cheia de energia e vontade, por ela eu me teria formado em alguma faculdade como ela o fez, ela era mais velha que eu, mas eu acompanhava muito bem seu raciocínio. Eu sempre fui elogiada como sendo muito inteligente e esperta. Eu nunca queria estar nos grupos das mais jovens e sim nas mais velhas. Era a Legião de Maria, o grupo de jovens onde a chefe era Maria e o orientador espiritual era Pe. João Bosco. Era uma turma grande, mas muito organizada. Acredito que só eu ainda não tinha terminado o colegial, mas não me deixava ficar à traz. E todos gostavam de mim e eu deles. Que tempo bom.
Em 1968 fiz o curso do MOBRAL, para poder alfabetizar e esta minha amiga fazia parte de um movimento mantido pela prefeitura e a diocese do Crato para alfabetizar as mulheres da zona, nesta época ficava no bairro vermelho, próximo à rua São Francisco. Cada grupo tinha um nome este tinha o nome de ninho e eu fiz o teste e passei, como só tinha 17 anos precisei de uma autorização reconhecida como legítima.
Foi um movimento muito bem trabalhado em prol das meninas que viviam nas casas de prostituição trabalhando e sem estudar, motivos não faltavam para que ela alegassem não poderem estudar, uma era como frequentar a sociedade, então nosso grupo saiu de casa em casa onde tivesse uma menina( assim a chamávamos) e a convencíamos a matricular-se em nossa escolar que era lá mesmo na zona, para não ter desculpas. Enfim depois de muito trabalho, conseguimos formar 2 turmas de alunas, tudo dado pela diocese, o transporte nos até o transporte para as professoras era da diocese, iam nos buscar em casa e nos trazer de volta. Tínhamos toda uma equipe muito bem elaborada, com professores especializados, o movimento espalhou-se por mais alguns estados, inclusive o Piaui sendo sede em Teresina, os trabalhos eram apoiados pela diocese e pelos padres seminaristas. Foi um trabalho lindo e gratificante, pegávamos mulheres que trabalhavam a noite toda mas na hora da aula estava lá atenta, querendo aprender ler, muitas é claro não se entusiasmava muito, porem nós professoras íamos atras de casa em casa, ouvíamos seus problemas, a tratávamos com carinho especial, muitas vezes ela nem queriam irem, mas nós insistíamos, até conseguirmos.
Nós continuávamos tendo orientação, chegamos até a irmos para Teresina para aprender e observar os métodos mais avançados que eles empregavam lá, foi uma semana de encontro com todos os professores e responsáveis para avaliação do que já se tinha conseguido. Cada grupo já tinha conseguido alfabetizar uma turma, a duras lutas, mas no prazo determinado foram feito provas com ela e as que passaram receberam seus certificados em uma festa como elas fizeram por merecerem.
E os trabalhos não pararam por aí não demos os reforços para quem precisavam e não desistimos das que tinham, mesmo boa vontade.
Depois o movimento enfraqueceu, não tive explicação, agora sei que a fraqueza deve ter sido política. Mas fiz minha parte e muito bem feita pois por muitos anos recebi cartas de duas meninas que foram embora de uma das casas mais luxuosas de lá para suas cidades de origem e lá continuaram a estudar. Quem planta colhe e desta vez eu plantei em um celebro letras e tirei alguém da cegueira do analfabetismo.
Tempo feliz que foi até 1972 quando casei e separei-me das pessoas que eu tanto gostava, admirava e conheci com elas a alegria.
Íris Pereira
Ela era de um sítio e morava na cidade junto com as irmãs para estudarem e somente ela trabalhava e estudava, nunca vi baixinha tão cheia de energia e vontade, por ela eu me teria formado em alguma faculdade como ela o fez, ela era mais velha que eu, mas eu acompanhava muito bem seu raciocínio. Eu sempre fui elogiada como sendo muito inteligente e esperta. Eu nunca queria estar nos grupos das mais jovens e sim nas mais velhas. Era a Legião de Maria, o grupo de jovens onde a chefe era Maria e o orientador espiritual era Pe. João Bosco. Era uma turma grande, mas muito organizada. Acredito que só eu ainda não tinha terminado o colegial, mas não me deixava ficar à traz. E todos gostavam de mim e eu deles. Que tempo bom.
Em 1968 fiz o curso do MOBRAL, para poder alfabetizar e esta minha amiga fazia parte de um movimento mantido pela prefeitura e a diocese do Crato para alfabetizar as mulheres da zona, nesta época ficava no bairro vermelho, próximo à rua São Francisco. Cada grupo tinha um nome este tinha o nome de ninho e eu fiz o teste e passei, como só tinha 17 anos precisei de uma autorização reconhecida como legítima.
Foi um movimento muito bem trabalhado em prol das meninas que viviam nas casas de prostituição trabalhando e sem estudar, motivos não faltavam para que ela alegassem não poderem estudar, uma era como frequentar a sociedade, então nosso grupo saiu de casa em casa onde tivesse uma menina( assim a chamávamos) e a convencíamos a matricular-se em nossa escolar que era lá mesmo na zona, para não ter desculpas. Enfim depois de muito trabalho, conseguimos formar 2 turmas de alunas, tudo dado pela diocese, o transporte nos até o transporte para as professoras era da diocese, iam nos buscar em casa e nos trazer de volta. Tínhamos toda uma equipe muito bem elaborada, com professores especializados, o movimento espalhou-se por mais alguns estados, inclusive o Piaui sendo sede em Teresina, os trabalhos eram apoiados pela diocese e pelos padres seminaristas. Foi um trabalho lindo e gratificante, pegávamos mulheres que trabalhavam a noite toda mas na hora da aula estava lá atenta, querendo aprender ler, muitas é claro não se entusiasmava muito, porem nós professoras íamos atras de casa em casa, ouvíamos seus problemas, a tratávamos com carinho especial, muitas vezes ela nem queriam irem, mas nós insistíamos, até conseguirmos.
Nós continuávamos tendo orientação, chegamos até a irmos para Teresina para aprender e observar os métodos mais avançados que eles empregavam lá, foi uma semana de encontro com todos os professores e responsáveis para avaliação do que já se tinha conseguido. Cada grupo já tinha conseguido alfabetizar uma turma, a duras lutas, mas no prazo determinado foram feito provas com ela e as que passaram receberam seus certificados em uma festa como elas fizeram por merecerem.
E os trabalhos não pararam por aí não demos os reforços para quem precisavam e não desistimos das que tinham, mesmo boa vontade.
Depois o movimento enfraqueceu, não tive explicação, agora sei que a fraqueza deve ter sido política. Mas fiz minha parte e muito bem feita pois por muitos anos recebi cartas de duas meninas que foram embora de uma das casas mais luxuosas de lá para suas cidades de origem e lá continuaram a estudar. Quem planta colhe e desta vez eu plantei em um celebro letras e tirei alguém da cegueira do analfabetismo.
Tempo feliz que foi até 1972 quando casei e separei-me das pessoas que eu tanto gostava, admirava e conheci com elas a alegria.
Íris Pereira
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